segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Febre amarela Vacina em xeque


Febre amarela Vacina em xeque

Três pesquisas da Fundação Oswaldo Cruz investigam aspectos que podem mudar protocolos de vacinação contra a doença
Junia Oliveira

A vacina contra a febre amarela pode ganhar novos parâmetros nos próximos anos e a obrigatoriedade da revacinação a cada década pode ficar no passado. Três pesquisas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) investigam aspectos que, se confirmados, vão mudar os protocolos de proteção. A primeira delas, intitulada "Duração da imunidade antiamarílica em crianças vacinadas de 9 a 12 meses de idade", estuda as diferenças entre a imunidade infantil e aquela adquirida por adultos. A segunda analisa se o uso de uma quantidade menor de vírus no medicamento tem o mesmo efeito da dose ministrada atualmente. Já a última pesquisa avalia a possibilidade de o período de imunização em adultos ser, na verdade, maior que os 10 anos preconizados até hoje.

O estudo da duração da imunidade em crianças está sendo desenvolvido pelo Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR), braço da Fiocruz em Minas Gerais, em parceria com as secretarias Estadual de Saúde e Municipal de Saúde de Ribeirão das Neves e de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os trabalhos começaram em agosto do ano passado e serão concluídos em março. Está sendo coletado o sangue de crianças não vacinadas, vacinadas há um mês (período de referência da imunização) e há dois, quatro, sete e 10 anos. Além de verificar se a proteção tem duração superior ou equivalente a 10 anos, os pesquisadores investigam se depois de uma década ainda há memória imunológica semelhante àquela existente no período de 30 dias pós-vacinação. O coordenador do grupo de pesquisas em Biomarcadores do CPqRR, Olindo Assis Martins Filho, acredita que possa haver uma pequena perda, mas, segundo ele, suficiente ainda para garantir a proteção.

Os estudos da Fiocruz foram motivados pela expansão da febre amarela no país nos últimos 16 anos, que deixou zonas consideradas livres cada vez mais vulneráveis. Em 2000, o Ministério da Saúde mudou a política de vacinação – até então destinada apenas a adultos moradores de zonas endêmicas ou de transição ou ainda a quem viajava para essas áreas –, depois da observação, principalmente em Minas Gerais, de casos da doença em áreas urbanas, contraída nos lugares de perigo. Por causa do surto, o calendário de imunização foi alterado e incluídas crianças com idade entre nove e 12 meses, moradoras de regiões endêmicas e de transição.

"Com a nova recomendação, começamos a fazer alguns questionamentos à ciência. Será que a resposta de uma criança vacinada é a mesma dos adultos? A vacinação a cada 10 anos foi pensada para eles e não se sabe se a imunidade infantil é igual. Talvez, elas ganhem proteção suficiente para não precisar da revacinação", alerta Olindo Martins Filho. Além de garantir uma cobertura segura e eficaz, outro ponto importante diz respeito ao impacto na saúde pública. Antes do protocolo que incluiu os bebês, o Brasil aplicava 5 milhões de doses ao ano e, 2010, é o marco das crianças que completaram 10 anos, o que significa um aumento significativo de doses.

O Instituto Bio-Manguinhos, unidade produtora de imunobiológicos da Fiocruz no Rio de Janeiro, é o responsável pela produção e distribuição da vacina para toda a América Latina, a África e as reservas estratégicas da Organização Mundial de Saúde (OMS). "Se conseguirmos provar que o período de cobertura é maior, poderemos otimizar a produção e diminuir os custos", afirma o coordenador.

Outro estudo em curso é o padrão de resposta, que verifica se os adultos adquirem o mesmo patamar de imunidade quando recebem uma dose menor da vacina. Neste caso, o volume do medicamento é o mesmo. O que diminui é a quantidade de vírus em cada porção. Os pesquisadores estão testando 246 unidades formadoras de placas (PFU) por dose, número 200 vezes inferior à dose aplicada atualmente, de 60 mil PFU. Os testes estão sendo feitos em militares do Rio de Janeiro. Os estudos contam com apoio do René Rachou, Instituto Bio-Manguinhos, Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro e do Exército.

A pesquisa da duração da imunidade em adultos foi aprovada pelo Ministério da Saúde e deve começar em abril, para ser concluída no prazo de um ano. Está à frente a Diretoria Regional da Fiocruz de Brasília (Direb), em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), CPqRR, Bio-Manguinhos e a Aeronáutica (os paraquedistas serão voluntários). Segundo Olindo Martins Filho, há estudos isolados mostrando que os efeitos da vacina podem durar até 80 anos. "Alguns indivíduos que receberam a imunização em 1930, quando foi aplicada pela primeira vez, ainda tinham proteção este ano. Não há embasamento científico, embora já haja respostas", diz.

Serão avaliadas pessoas vacinadas há uma década e há mais de uma década para medir os impactos e os benefícios da revacinação. "Se forem comprovadas as vantagens dela, o estudo dará suporte para a imunização a cada 10 anos. Se não constatar melhorias, veremos se não é preciso vacinar novamente ou se um número reduzido da dose seria suficiente", acrescenta.

NOVOS RUMOS Os resultados estarão disponíveis este ano e, caso as hipóteses se confirmem, as pesquisas deverão ser discutidas no Comitê Nacional de Febre Amarela, para só depois o Ministério da Saúde mudar protocolos. Emboras as respostas ainda sejam uma incógnita, os cientistas já comemoram alguns resultados. Segundo o coordenador do René Rachou, o grande desafio hoje é conhecer as bases científicas que estão por trás do modelo tão eficaz e seguro da vacina contra a febre amarela. Vários pesquisadores acreditavam que para proteger contra um vírus, uma vacina deveria ser capaz de proporcionar uma resposta segundo a qual, em contato com o vírus, o organismo inflama, mata o micro-organismo e fica protegido de infecções.

Uma das principais descobertas das três linhas de pesquisa é que, no caso da febre amarela, o medicamento é misto: depois de vacinado, inflama e anti-inflama, ao mesmo tempo. "Houve uma mudança de paradigma de que inflamar é bom. O segredo para se ter reações mínimas depois de vacinado contra a febre amarela parece ser o fato de inflamar e induzir, paralelamente, o controle da inflamação".

Um comentário:

Jamerson Costa disse...

Aninha,
é importante você postar a fonte de onde você tirou a informação quando publicar uma coisa assim.