terça-feira, 5 de abril de 2011

Cegos conseguem “enxergar” com os ouvidos



Cegos conseguem “enxergar” com os ouvidos, entre outras habilidades extraordinárias
É comum ouvirmos que os cegos desenvolvem um senso de audição diferenciado para compensar a falta de visão. Mas como isso funciona? Estudos recentes indicam que o cérebro de pessoas cegas consegue se reprogramar para que a região associada à visão processe sons, dando-lhes a habilidade de percepção espacial através da audição e ainda a capacidade extraordinária de compreender falas ultra rápidas.

Esses são exemplos perfeitos de neuroplasticidade, a capacidade de reorganização do cérebro conforme o uso. E o interessante é que para o desenvolvimento de certas habilidades faz diferença se a pessoa nasceu cega – nunca recebeu nenhum estímulo visual – ou se ficou cega quando criança ou adulto.

Num estudo feito na Universidade de Montreal, no Canadá, os pesquisadores compararam a atividade cerebral de pessoas com visão e de pessoas que nasceram cegas e descobriram que a área do cérebro que normalmente trabalha com nossos olhos para processar visão e percepção espacial pode efetivamente se reprogramar para processar informação sonora, ao invés da visão. Para chegar nessa descoberta, os pesquisadores avaliaram a atividade cerebral de 11 indivíduos que nasceram cegos e 11 que não, enquanto eles eram expostos a uma série de sons num equipamento de ressonância magnética.

Outro estudo, desta vez na Alemanha, mostrou que os cegos conseguem compreender a fala a velocidades ultra rápidas, muito além da que uma pessoa que enxerga consegue compreender. Quando nós conversamos rápido, estamos verbalizando a aproximadamente 6 sílabas por segundo. Aquele narrador hiperativo anunciando as advertências no final da propaganda consegue verbalizar a 10 sílabas por segundo, o limite absoluto de compreensão para pessoas com visão. Os cegos, entretanto, conseguem compreender falas aceleradas a até 25 sílabas por segundo. Seres humanos não conseguem falar tão rápido assim, então os cientistas tiveram que usar um sintetizador computadorizado para gerar uma fala nessa velocidade.

Os pesquisadores da Universidade de Tübingen, queriam descobrir o que acontecia dentro do cérebro de pessoas cegas que lhes dava esses “super poderes”. Examinando as regiões do cérebro ativadas pelos cegos e não cegos enquanto eles ouviam a falas ultra rápidas dentro de uma máquina de ressonância magnética, descobriu-se que nas pessoas cegas a parte do córtex cerebral que normalmente responde a visão estava respondendo a fala. Justamente pelo fato da visão ser um sentido tão importante para os humanos, uma grande parte do cérebro é devotada ao processamento visual, uma área muito maior do que a dedicada a qualquer outro sentido. Em pessoas cegas, toda essa potência cerebral seria inutilizada, mas de alguma forma o cérebro de uma pessoa cega consegue se reprogramar para conectar as regiões auditivas do cérebro ao córtex visual.

Pesquisadores acreditam que a idade em que a pessoa perde a vista pode ser crítica para que o cérebro consiga conectar a região que controla a audição com a região que processa visão. Em pessoas que nasceram cegas, a região do córtex visual não se desenvolverá adequadamente por não receber nenhum estímulo, o que tornará mais difícil sua reprogramação. Jovens que perderam a visão depois que essa região se desenvolveu, entretanto, têm mais facilidade até do que adultos. As sinapses (conexões entre os neurônios) do córtex visual atingem um pico com 8 meses de idade e depois 40% dessas sinapses são gradualmente removidas até atingir uma densidade estável aos 11 anos de idade aproximadamente. É justamente nesse período da vida em que temos sinapses “em excesso” que os pesquisadores acreditam ser mais fácil para o cérebro se reprogramar
Fonte http://www.cerebromelhor.com.br/blog/default.asp

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