segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O mundo não vai acabar em 2012. Saiba o porquê

O mundo não vai acabar em 2012. Saiba o porquê

Contrariando previsões místicas sobre o apocalipse em 2012, especialistas dizem que planeta não terá tempestades solares nem colisões com outros corpos celestes
Paloma Oliveto

Conheça as teorias propagadas e saiba por que elas estão erradas
Desde que o mundo é mundo, o homem não se satisfaz com a condição de viver no presente e, seja nas cartas de tarô ou na posição dos astros, tenta bisbilhotar o futuro. Alguns se contentam em saber se encontrarão o grande amor de suas vidas ou se ganharão na loteria. Outros, porém, preferem profetizar nos céus e em textos ancestrais coisas bem mais sérias, como, por exemplo, o apocalipse.

É difícil calcular quantas vezes o mundo “quase acabou”. Em 2000, o alinhamento de planetas do Sistema Solar gerou a expectativa do fim dos tempos, e frases bíblicas como “os poderes dos céus serão abalados” (Mateus 24.29) eram usadas para reforçar o armagedon. No ano passado, foi a vez de o asteroide YU55 ser acusado de querer extinguir o planeta. De fato, em novembro ele passou por aqui. A 324,6 mil quilômetros da Terra, não pôde sequer ser observado a olho nu. Os profetas do apocalipse sumiram por algum tempo, evitaram tocar no assunto, mas não demoraram para eleger novas catástrofes assustadoras (veja quadro).

A “torcida” pela extinção da Terra parece mais concentrada neste ano: do calendário maia a teorias espiritualistas, todas as especulações conspiram contra o futuro. Mesmo quem não tem o dom atribuído a Nostradamus sabe que o planeta está mesmo com os dias contados: como boa estrela gigante vermelha, o Sol um dia vai entrar em colapso e virar uma anã branca – daqui a 4 bilhões de anos. A Terra, então, ficará congelada. Mas, até lá, possivelmente os terráqueos já estarão vivendo bem longe, talvez em outra galáxia.

O monitoramento das atividades do universo próximo é feito por supertelescópios e satélites que, até hoje, não detectaram nenhum perigo extraterrestre, seja ele um asteroide ou uma civilização que chegará para exterminar os terráqueos. Para quem jura que a Agência Espacial Americana (Nasa) manipula os segredos do cosmos, o engenheiro e estudioso do assunto Ricardo Orsini C. Amarante, criador do blog Eternos Aprendizes (www.eternosaprendizes.com), esclarece: “Não existe nada mais democrático que o céu. Há centenas de milhares de astrônomos amadores que todas as noites o varrem com seus telescópios. Há agências espaciais poderosas como a ESA (agência europeia), a Jaxa (japonesa), além da Índia e China, que já lançaram sondas espaciais com sucesso”, recorda.

Sendo o cosmos um ambiente totalmente aberto a visitações telescópicas, Amarante acha impossível que qualquer instituição tente esconder dos humanos a verdade sobre o apocalipse. “Além disso, há uma competição saudável entre as agências. Você acha que um cientista europeu não teria a satisfação de divulgar sua descoberta antes da Nasa? E um astrônomo amador de qualquer país? Você vai calar a boca dele? Como?”, questiona.

Lendas
Quem não encontra no céu uma ameaça tenta pinçar o apocalipse em textos e profecias ancestrais. Os maias ganharam até um filme, dirigido por Mel Gibson, graças a uma suposta adivinhação que aponta 2012 como o fim dos tempos. A civilização pré-colombiana teria deixado a previsão marcada em seu calendário, que termina em 21 de dezembro de 2012. “O fim do mundo é a maior lenda urbana da história. Século após século, ‘profetas’ de todos os tipos anunciam um fim dramático da civilização, geralmente acompanhado de uma data exata”, diz Lorenzo DiTommaso, pesquisador do Departamento de Religião da Universidade de Concórdia, no Canadá, e especialista no estudo das teorias fatalistas sobre a Terra.

Mesmo que antropólogos já tenham esclarecido centenas de vezes que os maias dividiam o tempo em períodos de acontecimentos, e que 2012 seria apenas o fim de um ciclo para esse povo já extinto, muita gente prefere continuar acreditando piamente que, em 21 de dezembro, a folhinha do calendário não vai virar. “Acho que essa mania de apocalipse é uma resposta que as pessoas tentam encontrar. O mundo é visto como um lugar horrível, opressor, injusto, rodeado pela morte. O fim do mundo é o fim de tudo isso”, acredita DiTommaso, que tem um livro sobre o assunto publicado pela Universidade de Oxford.

Se textos deixados por civilizações do passado não são o suficiente, os criadores de boatos sobre o apocalipse usam explicações pseudocientíficas para o trágico destino da Terra. Como astronomia não é um assunto muito popular, fica fácil inventar teorias sem ser questionado. Uma das mais famosas refere-se a um planeta com órbita elíptica identificado pelos sumérios, que se aproximará assustadoramente dos terráqueos em 2012. Esse lugar seria habitado por extraterrestres muito inteligentes, que já passaram pela Terra milênios atrás e fizeram contato com os cidadãos da Babilônia.

Para justificar a existência de Nibiru, o nome do hipotético planeta, os pseudocientistas lembram que no século 19 os próprios astrônomos admitiram que um corpo celeste massivo no nosso Sistema Solar devia existir além de Netuno, pois há irregularidades na órbita desse planeta. Ele é chamado Planeta X e vem sendo buscado incessantemente por astrônomos; por enquanto, sem sucesso.

“Encurtando, Nibiru é pura mentira. Não é factível um objeto de dimensões planetárias se aproximando e se afastando da Terra em órbita elíptica alongada. Isso não tem o menor cabimento e é fácil provar que é impossível com conceitos básicos de física”, diz Ricardo Amarante. “Já o Planeta X é algo factível, mas somente objetos além do cinturão de Kuiper com tamanho razoável ainda restam a ser encontrados. É importante saber que a existência de um Planeta X não afetaria em nada nossas vidas aqui na Terra, pois esse objeto estaria bem afastado de nós”, enfatiza.

“Mesmo pessoas esclarecidas acreditam no impossível”, destaca o antropólogo John Hoopes, da Universidade de Kansas e especialista na civilização maia. “Muitos de nós já usamos a tábua de ouija para tentar nos comunicar com espíritos, mesmo dizendo que não cremos nisso”, exemplifica. Para ele, mitos sobre extraterrestres, criaturas marinhas e apocalipse são uma característica da civilização e, não importa o que aconteça, persistirão.

“Diziam que os maias profetizaram o armagedon para 11/11/11. Não aconteceu nada. Mas continuam relacionando o calendário desse povo ao apocalipse. A sociedade é assim e vai continuar com essas falsas crenças até o fim do mundo – seja lá quando esse evento, de fato, ocorrer”, brinca.

Fonte: Correio Braziliense

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