Demóstenes, enxurrada de provas chegam nesta semana ao Conselho de Ética
O
senador Demóstenes Torres cumpriu, durante anos e à perfeição, o papel
de tartufo. Ou melhor, ele representou, com os cidadãos brasileiros na
plateia, o hipócrita-dissimulado da consagrada comédia de Molière
intitulada Le Tartuffe.
Não
fosse a Operação Monte Carlo da Polícia Federal revelar, por meio de
interceptações telefônicas legais, a sua participação em organização
criminosa comandada por Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes
continuaria no papel de farsante e a pavimentar a estrada política que o
levaria ao governo do estado de Goiás.
No
Conselho de Ética do Senado foi instaurado um procedimento disciplinar
contra Demóstenes Torres por atuação marcada pela falta de decoro
parlamentar. E o procedimento está, até terça próxima, na fase de
apresentação de defesa por parte de Demóstenes, acusado, em face de
representação feita pelo partido PSOL, de quebra de decoro parlamentar.
Até
a torcida do Flamengo sabe ser indecoroso um senador da República
manter vínculos de amizade com um notório marginal de alto coturno, caso
de Carlinhos Cachoeira. Trata-se de amizade, frise-se, com um contumaz
violador do Código Penal. A respeito desses laços de amizade já existe
prova provada. E isso já bastaria para levar à cassação do mandato.
Mas,
existe algo mais. Demóstenes, além de amizade já comprovada e regalada
com o recebimento de presente nupcial caríssimo (uma cozinha de luxo
completa), realizava “negócios”, dava satisfações e prestava
contribuição nos ilícitos consumados ou tramados por Cachoeira. Quanto a
isso, a prova está no inquérito sigiloso que tramita sob a supervisão
do ministro Ricardo Lewandowski. Ainda não chegou aos autos do
procedimento disciplinar da Comissão de Ética do Senado
Até
a semana passada, Lewandowski resistia em deferir o encaminhamento de
cópias xerográficas do inquérito policial (Operação Monte Carlo) ao
supracitado Conselho de Ética do Senado.
Sobre essa resistência, cabe uma pergunta: A quem interessa essa resistência???
Essa resistência baseada em formalismo só interessa ao crime organizado, aos seus membros e aliados, caso de Demóstenes.
A
resistência, pelo que circula, chegará ao fim nesta semana. É que o
ministro Lewandowski vai deferir o envio de cópia de algumas peças da
Operação Monte Carlo. Peças que se referirem ao senador Demóstenes. As
demais peças só serão encaminhadas, se pedidas, à Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito (CPMI), recém-instalada.
Ora,
de posse do teor dos diálogos interceptados e gravados pela Polícia
Federal, haverá, nos autos do processo disciplinar sobre quebra de
decoro parlamentar, uma enxurrada de provas contra Demóstenes.
As novas
provas só chegarão depois de terça-feira, último dia do prazo para
Demóstenes entregar a sua defesa. Assim, haverá necessidade de se abrir
novo prazo para a defesa poder se manifestar.
Pelo
andar da carruagem, não existe possibilidade, salvo as surpresas de
votação secreta, de Demóstenes não ser cassado por falta de decoro.
Tudo isso sem prejuízo do ajuizamento de futura ação criminal por parte
do Ministério Público. Fora, evidentemente, processo administrativo no
Conselho Nacional do Ministério Público, pois, se cassado no Senado,
Demóstenes volta ao Ministério Público do estado de Goiás: o chefe do
Ministério Público estadual é o irmão de Demóstenes.
Pano
rápido. Na semana passada, os telejornais mostraram Demóstenes a
desfilar pelo Senado, esteve no plenário e cruzou com colegas senadores.
Como se percebeu, Demóstenes despediu-se do papel em panos de Varão de
Plutarco e se mostra em panos de Tartufo.
Wálter Fanganiello Maierovitch
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