domingo, 1 de março de 2015

CCC, a Cartilha Coxinha de Conduta


Texto imperdível de Alexandre de Oliveira Périgo

Artigo primeiro: Nem toda pessoa de esquerda é “petista” ou ”petralha”, ó tartamudeante coxinha. Usar tal denominação e generalização apenas demonstra sua profunda miopia em relação a conjuntura política nacional e internacional.

Parágrafo único: Denotar aspecto pejorativo ao termo “petista” é mero e vil preconceito, ó direitoso coxinha (vide artigo sexto). Petistas são, via de regra, gente muito bacana.

Artigo segundo: Não use o termo “esquerda caviar”, ó amantíssimo coxinha; ele entrega sua limitação cognitiva de forma cabal. Entenda de uma vez por todas: há sim pessoas humanistas que dentro da realidade capitalista que se impõe ganham dinheiro e nem por isso se tornam menos socialistas ou abandonam seus ideais de esquerda. Sou solidário à sua dificuldade de absorção da realidade, contudo esteja ciente que nem todo comunista é pobre, barbudo, mal ajambrado e sujo consoante seu limitadíssimo imaginário.

Artigo terceiro: Comunismo não tem nenhuma relação com “invasão de casas de veraneio por descamisados”, nem com “divisão de salários com mendigos”, ó odioso coxinha. Mendigos são frutos do capitalismo. E tampouco há um “golpe comunista em curso” no Brasil, pois o PT não é um partido comunista, muito longe disso. Considerável porcentagem das medidas petistas no governo federal privilegiam o mercado financeiro e a parte mais abonada da população. Sendo assim, informe-se antes de zurrar pudins de ignorância dos mais fétidos sabores e que machucam os tímpanos de qualquer interlocutor um pouco mais consciente que um banquinho manco de boteco.

Parágrafo único: Há sim Marxistas críticos e que acham que a experiência soviética foi um rotundo fracasso, ó extremista coxinha; todavia nem por isso tiram do centro de suas problematizações a nefasta lógica capitalista de acumulação de capital e nem abrem mão das ululantes demandas do proletariado do século XXI. Assim, pare de usar o termo “Marxismo” associado a Stalin e aberrações congêneres e, se possível, leia mais que 3 linhas no Google sobre Marx antes de escrever suas brilhantes teses sobre esse grande pensador.

Artigo quarto: Dobre sua enorme língua e limpe seus perdigotos infectados com toneladas de vírus atemporais de burrice antes de chamar os valentes e heroicos combatentes da ditadura de “terroristas”, ó troglodita coxinha; terroristas propriamente ditos são os malditos milicos que matavam primeiro, perguntavam o nome depois e que hoje se escondem, covardes que são, atrás das saias da Lei da Anistia e de mentiras deslavadas à Comissão da Verdade. É graças a gente como Dilma, que usou sua juventude para pegar em armas e não gastou suas noites nos bailinhos dos anos dourados embalados pela alienada “jovem guarda” que você pode hoje se manifestar como quiser, inclusive para criticá-la. E por obsequio, não me venha com essa esparramela rotundamente ignóbil de “os terroristas não queriam combater a ditadura, apenas instalar o comunismo no Brasil” pois isso é de uma inverdade histórica que dói conteúdo e continente de meu saco escrotal; estude um pouco e não pronuncie tamanhas bobagens, pois nunca - repito, nunca - nem chegou-se perto de um golpe comunista no Brasil e a intenção de muitos combatentes da ditadura - que nem eram comunistas - resumia-se a pleitear a volta da democracia no país. Quer um exemplo marcante de um valente combatente da ditadura que nunca foi comunista? Lula! Deu, né?

Artigo quinto: Não diga que “esquerdistas querem uma ditadura gay”, ó relinchante coxinha. Não, por favor, mil vezes não! Não existe “ditadura gay”, seja lá o bizarro sentido que você considere para o termo! Os gays têm exatamente os mesmos direitos que você e eu, sem sectarismo de qualquer espécie - contra ou a favor. E pare com esse papo de “se dar ao respeito”, essa colocação é ridícula e explicita que você deveria estar é preocupado com quem fomenta guerra e violência e não com demonstrações de carinho e amor. Simples, não?

Artigo sexto: Não justifique seus preconceitos com uma suposta “liberdade de expressão”, ó obscuro coxinha. Essa liberdade não é infinita tal qual seu ódio e ignorância; ela tem como limite justamente o direito do outro. Não gostar de negros, judeus, ateus, religiosos ou ser machista não é “liberdade de expressão”, mas sim uma putrefata mistura de sectarismo, preconceito, sexismo, misoginia e ignorância. Além de crime.

Artigo sétimo: Pare com essa estupidez de afirmar que “maconha é o primeiro degrau na escalada sem fim rumo às drogas mais pesadas”, ó esfumaçado coxinha. Poupe-me de seus faniquitos moralistas regados a cervejinha; há milhões de pessoas que fazem uso recreativo da maconha - como você faz do álcool e de remedinhos para dormir ou emagrecer - e que jamais injetarão heroína nas veias da têmpora para assaltar sua casa babando e com os olhos esbugalhados e vender sua TV para comprar mais droga. A questão das drogas é séria e portanto demanda serenidade e não grunhidos desta sorte em sua discussão. Fume um baseado lá no cantinho do castigo enquanto pensa a respeito, ok?

Artigo oitavo: Para sua surpresa completa, as pessoas de esquerda e que apoiam o PT nesse segundo turno das eleições não aprovam nem são lenientes com a corrupção, ó probo coxinha. Ao contrário, se manifestam contundentemente para que todos os casos investigados sejam esclarecidos, o que inclui aqueles que envolvem a direita e que foram parar debaixo do tapete da história recente. Quem curte uma corrupçãozinha básica é você, que aplica sua memória e indignação seletivas quando o assunto envolve as falcatruas dos partidos que defende e que não perde a chance de subornar um guarda e outras autoridades públicas, que não respeita as regras mais básicas de convívio social e que adora levar vantagem em tudo. Da próxima vez que baixar o vidro de seu carro para jogar lixo na rua, aproveite e atire também sua hipocrisia para bem longe de mim, por favor.

Artigo nono: Ser contra a diminuição da maioridade penal não é adorar bandido, ó revoltado coxinha. Tome uma vitamina de banana com leite e ponha seus três neurônios para funcionar: ninguém quer ser assaltado, estuprado e nem é conivente com seres humanos que agem de forma atroz e que merecem a punição prevista em lei. Ninguém “pensaria diferente se fosse sua filha” ou quer “levar bandido para morar em sua casa”. Esses argumentos são de um simplismo e ignorância que quase me persuadem a perder as esperanças na espécie humana. Saiba que as pessoas de esquerda entendem que há meios mais humanos e eficazes de se diminuir a criminalidade do que prender e linchar jovens negros e favelados já condenados no nascimento pela herdada exclusão a que estão submetidos. Entenda: a esquerda quer é atacar as causas da violência, enquanto você quer somente metralhar os seus efeitos.

Parágrafo único: a próxima vez que você, ó truculento coxinha, relinchar para mim que “bandido bom é bandido morto” vou sugerir que aplique essa máxima aos bandidos de colarinho branco que frequentam sua sala de estar nos churrascos de domingo, seja pessoalmente seja na TV. E por favor, não escreva mais “estrupo”, pois isso estupra meus ouvidos.

Artigo décimo: Não defenda a meritocracia, ó hidrofóbico coxinha. Se você era pobre e “venceu na vida” isso vai mostrar sua intolerância e desconhecimento das dificuldades dos outros pobres que são diferentes de você; e se você for rico, pior ainda - isso mostra que você é prepotente, folgado e usa dois pesos e duas medidas na vida: um para os pobres e outro para si próprio que teve tudo na vida de mão beijada. Nesse último caso, a vergonha alheia manda um beijinho no ombro.

Parágrafo único: o pobre de direita é um “ornitorrinco social” que merece toda minha solidariedade, ó heterodoxo coxinha. Não é fácil ser o bravo perdigueiro do capital alheio. E se esse for seu caso, deixo a você um breve e incontido recado: os ricos renitentes agradecem sua postura e mandam lembranças lá de Miami, prometendo um empreguinho de doméstica não registrada à sua mãe assim que voltarem da Disney.

Artigo décimo primeiro: Ateus não adoram o demônio nem são pessoas aprioristicamente más ou sem caráter, ó teocrático coxinha. Pare de vociferar esse mantra obscuro onde associa-se bondade e caráter com religiosidade. Hitler era cristão e Chaplin era ateu - e sabe o que isso significa? Absolutamente nada. Entenda de uma vez: todos são ateus com os deuses das outras religiões que não a sua. Eu sou ateu com todos os deuses e exijo respeito.

Artigo décimo segundo: pare de defender o capitalismo usando como exemplos países ricos como os EUA, ó disneylândico coxinha; você pode não saber, mas há milhões de pessoas passando necessidades nesses lugares todavia a grande mídia que você tanto venera e cultua não mostra. Abra os olhos: o problema não é a quantidade de dinheiro, mas o sistema que o concentra nas mãos de poucos.

Parágrafo único: já que mencionei a grande mídia, seja mais questionador e menos massa de manobra, ó crédulo coxinha. Não aceite como verdade absoluta tudo que é veiculado na grande mídia. Ela defende seus próprios interesses e não quer informar você; ao contrário, quer manipulá-lo. Pense - sei que é difícil, mas pense - antes de repetir como um papagaio acéfalo o que vê na Globo ou lê na Folha de São Paulo e lixos afins.

Artigo décimo terceiro: Respeite para ser respeitado, ó perdigotante coxinha. Lembre-se que todo ser humano é diferente de você e isso não é crime, por mais que você pense o contrário. Não invada a página de desconhecidos para xingar ou impor seu ponto de vista cheio de letras maiúsculas e vazio de bom senso. Além de demonstrar total falta de educação, a tentativa de colonização do outro entrega sua falta de espirito democrático, já diria Saramago. Argumentos Ad Hominem só atestam sua truculência exasperada e completa falta de conteúdo.

Parágrafo único: Não arrisque menção a nomes como Aécio Neves ou Olavo de Carvalho, é vergonha na certa, ó falante coxinha; na dúvida, permaneça em silencio. A parte pensante do universo agradecerá imensamente.

Assim concluo os treze artigos de minha cartilha.

E que Tutatis proteja as almas coxinhas, pois seus cérebros já estão comprometidos com a nobre função de peso de papel no jornaleiro da esquina.


Amém?

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